A volta dos vinis - "Batman" - trilha sonora original da série de TV


Seguindo com a obsessão por vinis de trilhas sonoras originais de cinema, esbarrei com a trilha de "Batman" - a série - gravado em 1966; qual não foi a surpresa - e "santa ignorância, Batman!" - de saber que a música foi composta e orquestrada por Nelson Riddle. Já admirava o arranjador e compositor americano pelas premiadíssimas trilhas de "O grande Gatsby", "Route 66" e "Lolita" de Kubrick. Ella Fitzgerald confiava albuns inteiros aos seus arranjos e orquestrações, "Strangers in the night"- na versão imortalizada por Frank Sinatra - é assinada por ele. Ao lado de Ennio Morricone e Henry Mancini, Nelson Riddle forma a tríade de meus compositores preferidos para trilhas - sorry, injustiça com Burt Bacharach! A tétrade!
"Batman" é um tema conhecido mundialmente; seu riffe de guitarras, meio surf music, meio rockabilly, influenciou uma série de outras trilhas - segundo as más línguas, até a de "Tubarão". A linha de baixo marcadíssima, aliada as intervenções melódicas dos metais e do coro feminino fazem do tema um clássico. As faixas do disco são basicamente as variações de "Batman theme" sob diversas leituras - jazzísticas, rock and roll, latin e das "big bands"; é inegável a sensação de ser um disco gravado nos anos 1960, dada a relevância atribuída às guitarras e ao estilo tribal de bateria. Destaque para as ótimas "Gotham city" e "Batman blues", duas baladas que faziam o homem-morcego enxergar a mulher-gato de forma "diferente" - para o desespero de Robin. Nelson Riddle morreu em 1985, aos 64 anos; dez anos antes recebeu sua estrela na calçada da fama de hollywood. Aos que se depararem com esse vinil pelos sebos do Brasil, recomendo não deixar escapar!

Cinema : Série Paul Morrissey - "Flesh"


Por um problema de logística – esse era o único filme que não estava a venda na FNAC Barcelona – escrevo agora o último comentário das cinco películas analisadas pela dobradinha Paul Morrisey-Andy Warhol. “Flesh” deveria ser a primeira porque de fato foi a estréia do diretor como responsável geral por tudo o que a Factory produziria no âmbito cinematográfico, mas o filme estava esgotado e agora já sei o motivo.
“Flesh” é um prato cheio para o público gay. Relutei em usar esse epíteto mas depois de 90 minutos de película é incorruptível essa sensação. O nu masculino é prioritário, as atrizes não tiram a calcinha mas é interessante constatá-lo porque no final dos anos 60, a nudez feminina era a nudez estilizada. Filmado em 1967, o filme contém os mesmos elementos e personagens que seguiriam em “Trash” e em “Heat”. Vagabundos viciados pelas ruas de Nova Iorque em busca de sexo e heroína; travestis e anônimos em busca da fugaz felicidade que o universo mediático pode oferecer. Já estamos falando de mulheres que aderem ao uso do silicone , do culto ao corpo, da idealização da beleza masculina e da “imprensa rosa” que invade os meios de comunicação de massa; tudo é superficial, frívolo, de plástico. Feito há 40 anos atrás, “Flesh” parece que foi lançado ontem. Morrisey segue com um estilo quase documental, ultra-realista e com diálogos semi improvisados. Destaque para cena em que John Dallesandro recebe sexo oral de uma stripper em uma sala com duas travestis sentadas lendo revistas; elas se incomodam e perguntam se não sentem vergonha em fazê-lo na frente deles; ele respode: “Não. Porque os anjos também fazem”. A stripper quer botar silicone “porque todo mundo bota” e a dupla travestida replica: “Olhe para as estátuas gregas. Nenhuma delas tinha o peito de vaca e eram exuberantes.” “Se uma tivesse colocado,se destacaria”, resume a go-go girl. E para terminar, afirma que prefere trabalhar o corpo do que o cérebro, porque quanto mais se aprende, mais se deprime.
Com “Flesh” encerro o ciclo sobre Paul Morrissey /Andy Warhol.
Hasta la vista.