Livros - Toninho Vaz - "Solar da Fossa"

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Quem passa em frente ao Shoping Rio-Sul não pode imaginar que naquele mesmíssimo terreno, há aproximadamente 40 anos atrás, estava edificado a pensão Santa Terezinha - melhor dito, o "Solar da Fossa". O escritor Toninho Vaz recupera à memória nacional as histórias dessa pensão de 85 apartamentos situada no bairro de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro. O que ela tinha de interessante? Segundo o jornalista Ruy Castro - também ex-morador do recinto - "nenhum outro endereço do Rio, em qualquer época, concentrou tanta gente que, um dia, atuaria de forma tão decisiva na cultura. Não que eles já fossem o que logo se tornariam. Ao contrário, estavam quase todos apenas começando - e é isso que torna a história ainda mais interessante."
Entre 1964 e 1971 o "Solar" recebeu moradores ou "agregados" como Paulo Leminski, Gal Costa, Caetano Veloso, Paulinho da Viola, Itala Nandi, Cláudio Marzo, Tim Maia, Cristóvão Buarque, Paulo Coelho, Aderbal Freire Filho...e a lista é interminável! Desde cariocas cansados da opressão do entorno familiar - a atriz Betty Faria abriu mão de um amplo apartamento em Copacabana em que vivia com o pai General - até Naná Vasconcelos, emigrado de sua Pernambuco natal em busca da carreira musical na cidade maravilhosa. A conjunção aluguel barato + ambiente libertário, traçou o perfil dos moradores locais; jovens com sede de revolução.
O casarão em estilo colonial, com a apenas dois andares, formava um jardim retangular, cenário de festas, encontros e até de uma "missa leiga" realizada nos últimos dias antes da desapropriação do imóvel; nesse jardim, Caetano Veloso imortalizou o lugar nos versos de "Panis et circencis": "Mandei plantar/folhas de sonho no jardim do Solar...."
O texto de Toninho Vaz propicia uma leitura fácil, ao ritmo dos acontecimentos da época - dos festivais de música ao Ato Institucional Nº5 - e é inevitável a vontade de mergulhar nos anos 1960, e ter vivido "o sonho", que logo depois, se tranformaria no pesadelo dos "anos de chumbo" do governo Médici.
Trecho escolhido: Depoimento do repórter e ex-morador Telmo Wambier: "Houve um momento em que a coisa começou a endurecer e a Polícia finalmente apareceu no Solar. A notícia vazou antes, acho que por conta da Dona Jurema, e tivemos tempo de nos prevenir. Eu e o Jeferson enchemos uma mala de livros consideramos subversivos e enterramos no jardim do Solar. Tinha Marx, Engels, Lenin...hoje posso dizer que, sobre o melhor pensamento socialista da história da humanidade, nasceu o maior templo de consumo do Rio de Janeiro, que foi aquele shopping. São os paradoxos da vida."

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